terça-feira, 24 de julho de 2018

OS ADVOGADOS DE LULA SÃO MUITO BONS

O Dr. Raimundo Viana, meu professor de DPP na UFBa, comentou, certa feita em sala de aula, que “o primeiro inimigo do advogado é o cliente”. Porque este vai pensando “esse advogado vai me roubar” e coisas assemelhadas. Muitas vezes, as narrativas dos fatos pelos clientes não são completas ou omitem verdades. Contou que ao defender um acusado de homicídio no Tribunal do Júri, fundamentado na tese de inocência, sentiu-se frustrado pela condenação do seu cliente a 12 anos de prisão. Surpreso ficou depois, ao esperar reação negativa do condenado, ter recebido elogio traduzido nas palavras: - “Doutor, quase o senhor me convence que eu era inocente”.


No caso de Lula (que se diz tb inocente), os advogados fizeram o impossível para defender essa tese (inocência). São profissionais de competência invejável. Não um profissional mas toda uma bela equipe da mais alta qualidade. Até ex-ministro do Supremo (Sepúlveda Pertence) faz parte dela. E mesmo assim Lula, igualmente ao homicida “inocente” defendido pelo Professor Raimundo Viana, teve pena condenatória de 12 anos de prisão. E ainda, no caso do ex-presidente, muitos integrantes dos tribunais julgadores foram indicados por ele ou sua sucessora. Fica difícil imaginar que as provas apresentadas nos autos processuais não sejam robustas para justificar a condenação. Não há de se falar em parcialidade de um juiz já que a condenação foi até aumentada pelo órgão colegiado (TRF4). E a que se atém agora a excelsa defesa? Não mais só ao mérito, mas a brechas fantasiosas no rito processual que poderiam, ao menos, se não capaz de suspender a aplicação da pena ao réu condenado, procrastinar o trânsito em julgado, em prejuízo aos princípios da economia e da celeridade processual, pelos sucessivos recursos às instâncias superiores.



Os advogados de Lula são brilhantes. Brilhante também foi o professor Raimundo Viana na defesa do seu cliente. Diferença se faz no comportamento dos condenados, à posteriori: o réu homicida se mostrou satisfeito com a pena já que admitiu não ser inocente; já no caso do Lula alguém de sã consciência acredita que algum dia ele admitirá? É um caso patológico que transcende às possibilidades atribuídas aos simples mortais. Lula acredita que ele é o Messias (não o “Bessias” mensageiro da Dilma). Mas que seus advogados são competentes ninguém pode duvidar.

quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

SABORES DA VIDA (10/06/1973)

Vida doce,
Açúcar,
Mel,
Caldo de cana.

Vida:  a doçura de sofrer,
           a doçura de amar.

Vida Morta,
Vida Viva.

Choro, lágrimas,
Sorriso - traição,
Sorriso - amor.

Doce vida,
Doce morte.

Morte açucarada
De uma vida salgada.

Morte salgada
de uma vida ácida.

Amarga.

Uma doce-amarga vida!

Fome X Amor (10/10/1973)

Estou com fome...
Quero comer!
(É óbvio!).

Quem tem fome, quer comer...
O que fazer?
Proibiram que eu comesse quase tudo.
(Dieta esquisita!)

Deixaram-me entregue a sucos e biscoitos.
Estava com fome, gostei dos biscoitos e
Achei o suco de laranja delicioso.

Agora a fome passou,
Estou enjoado,
ainda que sem vomitar.

Queria comer um salgado,
mas não posso.
O que fazer, se o médico proibiu?
Fico na vontade...

Aí penso no amor.
A fome de amar.
A fome do amor não saciado
por ser direcionado ao próprio "ego".

Amor egocêntrico,
tal como comer só biscoitos,
Causa enjoo.
Daí a necessidade do "salgado"
que é amar as outras pessoas.

Apego (24/04/1973)

Abandonei tudo,
Para me apegar a tudo.

Deixei parentes,
Saí de casa,
Fui morar sozinho..

Não fiz questão de herança,
Saí com a alma nua.
O corpo vestido.

Depois, fiz quase tudo por dinheiro,
Trabalhei,
Comprei coisas,
Tornei-me ambicioso.

Apeguei-me a tudo:

Da matéria ao espírito.
(Não tenho coragem de desapegar do espírito).

Olha eu aqui (24/04/1973)

Olha eu aqui...

Minha presença:

Não sei se indesejável ou
             se desagradável.

Estou aqui.
(Não tiveram a audácia de me mandarem embora).

CARNAVAL (Escrito em 14/12/1972)


Fujo de casa,
Fujo de mim.
Estou sozinho na "multidão".

Não há multidão.
Há pessoas isoladas juntas.
Juntas pelo álcool,
           pela fuga de si,
           pelo sexo,
           por uma liberdade escravizada.

Pessoas isoladas juntas.

Três dias passam;
Uma viagem curta;
Volto à vida.

Do carnaval me resta a lembrança...
E as cinzas:
Sou pó!

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Nascimento de uma fera citadina

Mulher de barrigão apressada caminha pela rua;
Os sinos da Igreja Matriz batem a última chamada da missa;
Ela quer chegar a tempo, antes de a missa começar.

Consegue chegar, acomoda-se em um banco.
Movimenta-se: ora levanta, ora ajoelha; segue fiel ao ritual religioso.
Dentro da barriga dela, o feto se mexe, dá os primeiros sinais que quer sair.
Está quase chegando a sua hora.

A mãe insiste em rezar, a criança em nascer.
Por alguns minutos elas disputam para ver quem vence.
A missa ainda não passou das leituras bíblicas.
A mãe quer rezar, a criança quer nascer.

As dores das contrações ainda leves começam a aparecer.
A mãe acha que dá para esperar a missa até acabar,
A criança insiste em nascer.
A missa chega ao Ofertório,
A mãe oferece contrita aquela oblação.

Que Deus abençoe o seu filho!
Que seu nascimento seja feliz!
Que venha testemunhar e honrar a grandeza da criação divina!

A mãe é religiosa, ela pensa em Deus,
A criança nada sabe sobre a vida que a espera.
No interior da barriga da mãe, o bebê sofre contraído envolto pela bolsa e submerso no líquido amniótico.

As dores das contrações se ampliam,
A mãe não consegue inibi-las,
Compartilha com o pai da criança que está ao seu lado.
O varão da família orgulhoso do seu primeiro rebento,
Não tem dúvidas do que está para acontecer.

De mãos dadas com sua mulher, saem rapidamente da Igreja sob o olhar dos fiéis que ocupam todos os bancos da nave principal.

O pai está ansioso, seu primeiro filho vai nascer.

O pai conduz o veículo, com a mãe quase em trabalho de parto dentro dele, direto para a Maternidade.

Chegam à Maternidade e, na sala de parto, as contrações são fortes e é chegada a hora do bebê nascer.

A mãe suada, com seu esforço no parto normal, só abranda o seu sofrimento com um sorriso ao ouvir o choro do bebê. O pai acompanha tudo tão emocionado quanto ela.
Lágrimas escorrem nos seus rostos.
O bebê nasceu.
É homem!

O pai quer que ele seja fera, macho! A mãe se contenta que ele seja feliz. Pensa na família, na vida nova a três. O pai pensa que o filho poderá unir ainda mais o casal. A família se completa, tudo parece harmonia e até irreal.

Fora da Maternidade, a vida da cidade continua. Os ruídos dos carros nas ruas, mesmo naquele ambiente de hospital, ecoam nos ouvidos dos seus pacientes. Para a fera nascitura é impossível imaginar o que está por vir.  

A selva de pedra vai incorporar em seu seio mais aquela ferinha. Fera que, como tantas outras, nascem e crescem todos os dias.